Berlim "Arte Attack"

Mas como fazer o olhar recuperar a paisagem? As intervenções frequentam os limites do visível, o olhar perante o qual a cidade é observada. Muitas propostas têm intenções puramente intervencionistas: trabalhos em espaços específicos, em lugares por vezes inacessíveis tal como janelas, ruas ou supermercados. Como por exemplo o caso da intervenção realizada no centro da cidade de Berlim “Arte attack”, em que um cruzamento se transformou em obra de arte urbana, onde os carros foram os pincéis.



[…] Rosenthaler Platz ganhou traços de arte pública com as pinceladas que nasceram de um movimento de guerrilha criativa. A obra anónima e rebelde largou litros de tintas coloridas na esquina da área mais cool da cidade. Um grafitti gigante com direito a panfletos pregados pela praça alegando que as tintas eram, laváveis, biodegradáveis e orgânicas. […] A história é que alguns ciclistas despejaram tudo em frente aos carros que esperavam no semáforo, e querendo ou não, os motoristas tornaram-se criadores da obra sem nome, que pode ser um fantástico trabalho colectivo ou uma ideia de marketing ainda não reclamada.

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A relação: cidade e público

As cidades contemporâneas são complexas na sua estrutura e função, tornaram-se fragmentos de “não-lugares”, espaços anónimos e vazios de significado. A sua estrutura estética é composta por um conjunto de colagens, onde as imagens e citações de publicidade formam a paisagem visual vista pelo público. A importância desta paixão da cidade moderna e das multidões é a de que ela permite ao artista encontrar beleza e harmonia onde se poderia ver apenas o caos, desumanização, ou a própria impossibilidade de prosseguir ainda uma experiência humana […] (Baudelaire. 2006, p.79)

Ao construir a cidade como obra de arte necessitamos de pensar o espaço público como morada social, corpo colectivo e lugar de acolhimento da multiplicidade de expressões culturais. O público habita o corpo da cidade. Os edifícios, os monumentos, as intervenções contribuem para a formação desse corpo social, com carácter do lugar.

:::BAUDELAIRE, Charles. O pintor da vida moderna. 4º Edição. Passagens. Lisboa, 2006.

O diálogo da cidade com o público

A junção entre arte e meio urbano, com o fim de manifestar ideias e insatisfações frente aos problemas políticos e sociais e ao próprio mercado de arte, faz surgir novas reflexões através de novos projectos artísticos. A cidade torna-se assim, no palco das expressões sociais, um lugar privilegiado para a arte, a própria obra de arte como refere Peixoto na reflexão ao projecto Arte/Cidade (projecto de intervenções urbanas realizado em São Paulo, dedicado a estabelecer visões e mapas renovados da metrópole por meio de intervenções urbanas). Verificamos, cada vez mais, uma atitude activista nas propostas artísticas que tentam explorar a instabilidade e as contradições da sociedade actual.

No espaço urbano, a prática artística promove a acção de realizar uma crítica, consciencializar o público na formação de conexões sociais, obter tempo e espaço na informação, na publicidade e na sua distribuição urbana. Referindo Peixoto, […] a relação entre arte e cidade: trata-se de despertar a experiência do mundo de que toda a arte é expressão […]. A função da arte é construir imagens da cidade que sejam novas, que passam a fazer parte da própria paisagem urbana. […] (Peixoto. 2003, p.14-15).

A construção das novas imagens da cidade, de uma realidade estética e cultural, que o espectador nem sempre consegue ver, estimula a necessidade de intervir, capturar novas imagens dando-lhe um novo rosto.

Disponivel em: <http://books.google.com/books?id=z7xG6XSmg18C&printsec=frontcover&hl=pt-pt&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false> Acesso em janeiro de 2011.

Arte Relacional

É a arte das experiências e construção de significados com a participação do público, a intervenção artística pretende como acção a prática relacional ou a intenção de que o público interaja com a obra.

Site-specific Art

Podemos definir site-specific como um espaço determinado, no qual as obras ou intervenções artísticas são planeadas de acordo com o ambiente, em que os seus elementos esculturais dialogam com o meio envolvente. A aproximação do exterior como espaço artístico contribuiu para a promoção das instalações site-specific, que implicam o espaço tal como a presença do espectador na obra, transformando o próprio espaço na razão da sua existência.

Arte Pública

A definição de arte pública como sentido corrente do conceito refere-se à arte realizada fora dos espaços tradicionais como museus e galerias, ocupa os espaços públicos de circulação da cidade, onde o público se converte no espectador. Através da ocupação do espaço, o espectador deixa de ser o observador distante e torna-se parte integrante do projecto artístico, aproxima assim a obra de arte do público e o artista deixa a sua expressão individual para a compartilhar com o espectador. É uma arte acessível que modifica a paisagem envolvente de modo permanente ou temporário.